terça-feira, fevereiro 27, 2007

Extrato de vida...

«...A vida tinha-lhe corrido como um raio de sol: quente e rápida.
Mas a dor... a dor lancinante e cruel, aquela que arrasta a dignidade , que corrói a alma, que escava o coração, chegou um belo domingo de Primavera, debaixo de uma oliveira, sem ser avisada.
A dor apareceu ao virar da esquina da casa, no almoço familiar, assim sem mais nem menos, anonima, horrenda.
O filho mais novo morreu debaixo de fogo, na frente.
O mensageiro não existia mais. Tudo parecia uma fita em ralenti, de um filme mudo.
Houve choros, gritos, gestos de desespero. As caras irreconheciveis disformavam-se em rictus abomináveis.
A vida estava-se a acabar-lhe.
"Deus, que injustiça! Que cobrança tão alta! Preferia a eternidade dos infernos! Leva-me! Não quero mais a vida que me escolhestes! Não suporto! Porquê? PORQUÊ??"...»

QUESTION EXISTENTIELLE...

Le penseur - A. Rodin

Qual é o meu desígnio na vida? O que faço aqui? Terei algum destino para cumprir? Nasci com alguma tarefa marcada?

Ás vezes paro, e questiono-me sobre a minha existência.



1. Versão existencialista:

Estou cá por acaso. Nasci do encontro ocasional de um espermatozoide e de um óvulo. Sou um ser humano de 31 anos de idade, que por razões sociais e políticas nasceu em França e por lá estudou, escolhendo por um mero acaso o curso de Direito, em Paris. Por simples vontade de mudanças de ares, também estudei em Coimbra. Conheci por encontro involuntário o meu marido.



2. Versão marxista:

Sou produto do proletariado, e estudei para servi-lo, sendo solidária, desprezando o grande kapital, e trabalhando para o bem público: o Estado. Realizei por instrumento público, o meu casamento, no sentido de procriar e fornecer, desta forma, ao Estado, outros trabalhadores para a grande Nação.



3. Versão liberal:

Nasci de dois imigrantes em França. Com trabalho árduo e frutuoso, os meus pais incentivaram-me a estudar numa das melhores faculdades de Direito de França. A minha mãe obrigou-me a frequentar um Conservatoire de Musique, para aprender piano, durante uns 12 anos. Da minha vontade, esforço e do meu mérito, consegui uma Maitrise en Droit, e um Master. Convivi com as elites.

Quis aventurar-me em Portugal. Conheci, durante a minha estadia na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, quem viria a ser o meu marido, atraente, engenheiro, culto, e de boas famílias.



4. Versão Cristã

Nasci de dois católicos, em França, sendo a mãe uma devota de Nossa Sr.ª de Fátima. Deus sempre me ajudou nas minhas escolhas, e percebi inumeras vezes que Ele estava a apontar-me para um caminho. Escolhi o curso de Direito, inconscientemente, mas no decurso dos estudos, percebi indubitavelmente que era o curso da minha vida. Com o cruzar de outras pessoas e de vivências decidi voltar às raízes da minha existência, e encontrar-me comigo própria. Quando resolvia partir de Coimbra, encontrei a minha alma gémea. Casamos passado 5 anos, na igreja de Santa Eulália, em Caminha.







...







Suite, aux les prochains épisodes...




quinta-feira, fevereiro 22, 2007

SANTANA, OU ES-TU?...


Carlos Santana - Black Magic Woman

Ás vezes basta as primeiras notas de uma música, para ficarmos paralisados com as nossas lembranças...


Relembrar como a vida era simples.
Relembrar os meus sonhos.
Relembrar as minhas alegrias.
Relembrar os bons tempos da fac.
Relembrar a leveza da minha vida.

E reconhecer que ainda vou a tempo.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Hoje, pela tarde, presenciei um episódio hilariante para quem estava a assistir, e no mínimo dramático-ridiculo para os protagonistas.

A cena decorreu na sala de audiências com 3 advogados (estava a ler uns documentos de pé, um pouquinho retirada, à porta da sala), um senhor de meia-idade, e uma miúda de pr'aí 19/20 anos, toda cheia de nove horas. Todo esse mundinho à espera do juíz do Colectivo.

O advogado com ar de emproado levanta-se, segue atrás a pita de 20 anos, e dirige-se ao outro advogado do outro lado da sala:
- "Olá caro Colega, queria apresentar-me, eu sou o XPTO, advogado na comarca de Z, e também queria apresentar-lhe a minha filha P, que quer ser advogada com toda a força. Quer seguir os passos do paizinho. Sabe que já na Primária, ela lia as minhas petições e dava alguns palpites?! Pois é! E ainda por mais, ela até tinha média para entrar em medicina, mas não quis! Recusou-se entrar em medicina!"

A dita cuja não dizia absolutamente nada, limitava-se a sorrir estupidamente.
Escusado dizer que o outro advogado, coitado, já nem sabia o que havia de responder.
Tanto que a conversa de tão vazia, esgotou-se e desajeitadamente, o advogado gingão e a filha aspirante a advogada regressaram à bancada onde se tinham instalado.
O Juiz mal chega, e repete-se a cena desprezível do "a minha filha aquilo e acol'outro".

Pior ainda: porque, evidentemente tinha que me sentar na bancada dos advogados, ié onde a coitada estava sentada com o progenitor, e como já não havia lugar livre para mim, o pai teve de lhe pedir para me ceder o lugar.
A parvinha levantou-se e sentou-se nos bancos reservados ao público... à plebe.
O paizinho sofreu, ela, teve dificuldades em levantar-se... Ele odiou-me, ela esteve quase para chorar.
Credo, faço cada uma...

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

NEVRALGIA FACIAL...


Lá está ela outra vez. Estava a demorar em aparecer.

Mas não falha.

Num intervalo de mês, ou mês e meio tenho que parar de falar (ou pelo menos não mexer demais os lábios), deixar de mastigar, de rir, de sourir, de pentiar-me e dormir do lado direito, etc, etc. Isso durante 2 ou 3 dias.


Um inferno.


Custa-me trabalhar, ler, estar atenta, ouvir as pessoas.

Nem a cama me alivia.


No século XIX, e ainda no XX, chegaram a internar pessoas que sofriam dessa doença crónica em hospícios, e hospitais psiquiátricos.

Ignorância, claro. Nenhum médico percebia o porquê desta dôr lancinante, aguda, que leva quase à loucura de tão intensa que é.

Quando me disseram que não havia cura, quase caía para o lado de tanto desespero.

Nunca me posso esquecer dos medicamentos, que sim, aliviam-me algumas horas, durantes as crises. Mas a dor está lá, um pouquinho adormecida, mas à espera de resurgir com a força toda.

Quando as pessoas me perguntam o que é, costumo responder que é como uma monumental enxaqueca e uma grande dor de dentes à mistura, situados na parte direita da cabeça, abrangendo olho, maxilar, ouvido, cabeça, e uma parte do pescoço.


Depois da crise, a vida parece-me tão bela, tão alegre!


Volto daqui a 3 dias.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

SOBRE A SENSIBILIDADE: CARTA ABERTA AO JG

"...E confesso que as mulheres com mais sensibilidade, humana e artisticamente falando, gostam e usam poesia. Das que conheço" JG

...


Gosto de poesia. Sim.
No entanto, sou uma mulher sem sensibilidade por alí além, daquelas que quando se passa por elas, se diz que são autênticas brutamontes. Duras essas minhas palavras! Mas infelizmente tão verdadeiras.
Deixei essa sensibilidade (nem sei se alguma vez a tive) à porta dos meus 30 anos. Ou terá sido antes?
A prática levou-me a deixar de lado essa faculdade de sentir, se assim posso dizer, e encarar uma grande parte da minha vida de um ponto de vista mercantil. E então sim, o “vil metal” acerbe; posso garantir.
Afigura-se, caro Jg, que em tempos até altruísta fui! Belos tempos! Tempos em que poemas de Baudelaire e de Rimbaud faziam parte do meu dia-a-dia, em que levantar-me todos os dias não me custava nada (nem um tostão!), em que uma insustentável leveza fazia parte do meu ser [que saudades de Kundera…]. Enfim, momentos estes que findaram, e foram arrumados no fundinho de um recanto da minha memória.
Houve tempo ainda, em que me pasmava com sonhos de artista. Idealizava eu, do alto dos meus 17 aninhos que deveria encontrar a minha vocação nas Artes!
Quanta quimera!
Acabei (será?) nesta minha profissão, um pouco “por- acaso-mas-sem-sê-lo-totalmente”, e ainda me horrorizo todos os dias que Deus faz, com a pequenez e estreiteza de espírito das pessoas com quem lido, diariamente. Será sinal de esperança ou desespero? Não sei. Contudo, neste caso, apostava no desespero.

Por isso vos digo, caro Jg, essa sua teoria tem pelo menos uma excepção.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

FRASE DO FIM-DE-SEMANA...

"The world can never have enough blonde ambition!"
Anonymous

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

BIJOU DA SEMANA...

Esta band é fantástica, simplesmente uma pequena maravilha!
E por mais estranho que pareça, esta música tem o poder de me relaxar...


Airwaves beam from the light on the tower
Get my kicks from your eleventh hour
Won't you gimme some more
Riot on the radio
Burning up say my mind's on fire
A talk talk speaker on the end of the wire
You know it cancelled it out
Riot on the radio
You know it's turning me on
Riot on the radio
Yaow ow ow aow
Airwaves beam from the light on the tower
Get my kicks from your eleventh hour
Won't you gimme some more
Riot on the radio
You know it's turning me on
Riot on the radio
Riot, Riot!
Won't you gimme some more! Riot, Riot!


The Dead 60s - Riot Radio

Uma manhã produtiva...

Diligência marcada às 9h30 - audição de testemunha via teleconferência:

  1. O juiz manda-me entrar às 11h.
  2. Diz-me que houve um lapso nas informação pedida relativa à matricula de um carro (em vez de um L, marcou-se um G..???!!!...).
  3. Informa-me que hoje, ELE não tem disponibilidade para ouvir a testemunha (que se deslocou até ao Tribunal de uma vila no sul do país, que deixou de trabalhar de manhã, e que ficou à espera até às 11h para ser informada que a diligência não ia decorrer).
  4. SEM A MINHA PRÉVIA CONSULTA, manda a administrativa marcar novamente a mesma audição para daqui um mês, às 14h.

Quid Juris?...

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Programa de Segunda-feira...

Dormir - Luísa Cortesão


Ontem, mal acordei, queria que o dia já tivesse a acabar. Assim... sem razão nenhuma.

Não era tristeza, talvez desanimo.

Consegui arrastar-me o dia todo com a ideia do regresso a casa ao fim do dia.

Ideia fixa.

Quando finalmente, cheguei a casa, embrulhei-me no edredon.

Dormi.

Tomei um duche quente, quase a ferver.

Liguei a TV, e trouxe After-Eights.

Renasci.