segunda-feira, julho 06, 2009

Como Eça ainda consegue falar à minha alma...

[...]
"Penetrei no Durand, com os passos entorpecidos dum ressucitado. E, numa recordação que me escaldava a alma, encomendei a lagosta, o pato, o Borgonha! Mas ao alargar o colarinho, ensopado pelo ardor daquela tarde de Julho, entre a poeira da Madalena, pensei com desconforto: - «Santíssimo Nome de Deus! Que imensa sede me fez esta desgraça!...» De manso acenei ao moço: - «antes do Borgonha, uma garrafa de Champanhe, com muito gelo, e um grande copo!...» Creio que aquele Champanhe se engarrafara no Céu onde corre perenemente a fresca fonte da Consolação, e que na garrafa bendita que me coube penetrara, antes de arrolhada, um jorro largo dessa fonte inefável. Jesus! que transcendente regalo, o daquele nobre copo, embaciado, nevado, a espumar, a picar, num brilho de ouro! E depois, garrafa de Borgonha! E depois, garrafa de Conhaque! E depois Hortelã-Pimenta granitada em gelo! E depois um desejo arquejante de espancar, com o meu rijo marmeleiro de Guiães, a porca que fugira com outra porca!"
[...]

Sem comentários: