quinta-feira, setembro 27, 2007

FECHADA EM CASA: DIA 3...

O mais estranho nesta situação é que já me apercebo ou reconheço, melhor dizendo, os prazeres da liberdade numa prisão de luxo.

Tenho tempo.

Tempo para disfrutar da música, e sonhar de olhos abertos. Penso que não fazia isso desde há uns 10 anos atrás:

«(...)No peito dos desafinados, no fundo do peito dos desafinados, também bate um coração... tada..tada(...)»



Tempo para reflectir, ponderar, sobre (quase) tudo.

Por exemplo, dei por mim, a imaginar as razões e os medos mais profundos que encehram essa mulher espanhola que fez a seguinte declaração, (mais ou menos): "Fotografei a menina, porque tinha a pele muito branca, era louríssima, e estava acompanhada de magrebinos (leia-se bronzeados e morenos de pele)". Até aqui tudo bem, teve uma duvida, fez o que devia (mas fez mal diga-se de passagem, porque a foto é de uma qualidade duvidosa, e se estava tão preocupada, parava o carro e ia ver com os proprios olhos... mas o que se segue, percebe-se o porquê de ela não parar). Continuando, ela acaba por dizer uma estupidez monstruosa: "se não for a Maddie, então foi outra menina raptada"... ... ... Tenho a sensação que isso passou COMPLETAMENTE despercebido (só nos canais espanhois, ouvi reacções valentes). A dita senhora não sabe que no norte de de certos paises magrebinos há gente loira, muito loira e com pele clara: o povo Berber... mas claro, não é obrigação da senhora saber... a obrigação da senhora é de não acusar sem fundamento, ou de acusar por "medo" do desconhecido, do estrangeiro... porque o estrangeiro é forçosamente mau, feio, e rapta meninas bonitinhas e loirinhas. Ainda há tanto para fazer. Talvez regredimos.


Tempo para fotografar o meu gato adepto da sesta encima dos meus livros, ou da almofada que me serve de apoio à perna.

Tempo para desfrutar do pôr do sol às oito menos un quarto, através da minha janela dos estores abertos. (Deus existe. )

Tempo para acabar de ler uma biografia da ultima rainha do Irão, exilada, e (re)ler Machado de Assis:

«(...)Naquele instante, a eterna Verdade não valeria mais que ele, nem a eterna Bondade, nem as demais Virtudes eternas. Eu amava Capitu! Capitu amava-me! E as minhas pernas andanvam, desandavam, estacavam, trémulas e crentes de abarcar o mundo. Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciencia a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fosse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie. Naturalmente, por ser minha. Naturalmente também por ser a primeira.» (Dom Casmurro)



E tempo para ver programas de TV, que em tempo normal não posso ver:

«Pero de donde sacas la informacíon??!! De South Park??» Noche Hache - Cuatro

1 comentário:

Anónimo disse...

Posso ir passar uns dias a tua casa???? é k dp de ler o teu post fiquei com uma sensação tão boa.... ;)