Caro Sr. X,
Resolvi escrever-lhe esta carta aberta, não que ache que possa a vir a ler estas linhas (hipótese muito pouco provável), mas mais própriamente, para expressar a minha raiva e o meu nojo, tal como vómitos depois de uma jantarada de marisco avariado (imagine!conceptualise!).
Queria dizer-lhe que depois dos seus sucessivos telefonemas anónimos, fiquei até com uma névua de pena: deve ser velho, feio, antipático, e ninguém deve gostar da sua companhia. Credo! Como ainda encara viver?
E, bem... afinal, uma pergunta perturba a minha mente: o que pretendia com essas suas obscenidades e badalhoquices via telefone? Que eu lhe respondesse o quê? Que marcasse consigo um encontro (acreditou mesmo, hum?!)? Ou talvez quisesse que eu ficasse petrificada, chocada, ...COM MEDO?? AHAHAHAHA!!!!
Claro, tomou-me de surpresa, a minha resposta resumiu-se a desligar o telemóvel.
Fiquei ofendida, sim... os primeiros 5 minutos. Depois... depois... aaahh Sr. X!... se eu pudesse fazia-lhe a vida negra, NEGRÍSSIMA!!! Ai que prazer era conhecê-lo! Que grande final! O Sr. nem faz uma pequena ideia da doida varrida que sou; porque se soubesse, nem se teria atrevido. Já uma amiga minha dizia que tinha quase a certeza que devia ter algum gene que misturava um pouquinho de Jack O Estripador, Mandrake O Mágico, e do Professor Maboul...Aliás, sempre fui um ser mal percebido, e com certeza um tanto ostracisado enquanto adolescente. Mas enfim, essa conversa não está pr'aqui chamada.
O certo é que o Sr. voltou a telefonar, várias vezes, até ontem.
Não atendi sempre, acredite que a minha vida não tem como função principal, atender o telemóvel a tarados sexuais. Contudo, as vezes que eu atendi, decidi não falar, e esperar que o Sr. despejasse as suas obscenidades... mas nada... nadinha... o Sr. assustou-se? Não estava a espera?... ohh! o Sr. X não perde por esperar: ainda vai ter muitas surpresas minhas e certamente, o prazer de me conhecer pessoalmente (se já não me conhece, ora não?... essa sua voz disfarçada...)!
No entanto, hoje, uma terrível sensação de vazio apoderou-se de mim: não houve contacto seu!... Qual trabalho, qual amigos, qual carapuça!?...senti-me só, abandonada, desprezada...
Despeço-me com esperança, e expectativa.